POESIA NAS MÃOS DE QUEM FAZ NASCER ALGODÃO

 POESIA NAS MÃOS DE QUEM FAZ NASCER ALGODÃO

 Do trabalho qualificado ao consumidor final; a produção e a multiplicidade no uso de algodão crescem em larga escala na cidade de Luís Eduardo Magalhães.

 Por: Iasmin Vidal Moura

Publicada em 18/09/2023 16:59

Foto por: Iasmin Vidal / Ramo de algodoeiro

É poético o processo do algodão. As mãos que plantam são as que colhem. Mãos que trabalham incansavelmente para apresentar produtos de qualidade aos brasileiros. Em terras vermelhas brasileiras do Oeste baiano, trabalhadores se preparam para mais um período de safra. Não usam como ferramentas principais canetas para escrever o plantio, mas descrevem em sentimentos trabalhados a poesia traçada em linhas de algodão. De um pequeno ramo de algodoeiro, consegue-se transformar em diversos produtos para consumo do dia-a-dia, desde a roupa que veste o corpo até o fio de um aparelho celular. 

Neste período de trabalho mais intenso a Associação Baiana de Produção de Algodão (Abapa), tem como foco orientar e qualificar profissionais para obter qualidade e produtividade durante a safra do algodão. Criada nos anos 2000, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, a empresa oferece diversos programas para o fortalecimento do agronegócio na Bahia. Apesar do grande número de maquinários e distintos aparelhos tecnológicos, a empresa destaca e valoriza a importância que a mente e as mãos humanas se apresentam no controle da produção. 

De acordo com Alessandra Zanotto, vice-presidente da associação, todo ano a Abapa faz, tanto dentro das algodoeiras, como nas fazendas e nas unidades de produção, uma reciclagem de cursos para todos os colaboradores. São diversos treinamentos que vão desde operação de máquinas até os cuidados destinados à segurança no trabalho. 

O Grupo irmãos Franciosi, também adota a qualificação de profissionais. Daniele Pavanelo, gestora de recursos humanos do Grupo, destacou a importância dessa iniciativa junto aos colaboradores. “Se a gente tem por missão desenvolver a lavoura, o desenvolver de uma forma geral, então, para nós, o principal foco está nas pessoas. Isso aqui tudo não roda se não tiver pessoas e, principalmente, as que são qualificadas". 

Colheita e processo de análise

Foto por: Iasmin Vidal  /  Rolinhos de algodão do Grupo Zanotto

O campo de algodão reflete a árdua tarefa do período de plantio. As máquinas controladas pelas mãos afiadas dos trabalhadores rodam por dias a fio, até que todo o campo esteja devidamente semeado. É o anseio, de cada colaborador, de se encher de orgulhos ao ver os ramos de algodoeiro desabrochar. Para isso, através do método de irrigação pelos pivôs, considerado um dos melhores meios para a excelente produtividade do algodão, o processo se inicia na tarefa de alimentar as sementes. Gotículas de água são jogadas sob o solo para que, em alguns meses, possam fazer parte da formação de um campo totalmente dominado pelo branco-nuvem que contracena com o céu azul da região. 

A colheita é feita por máquinas de rolo que rodam pelo campo deixando suas marcas na terra, retirando uma quantidade de ramos de algodão que serão enrolados em uma camada de plástico para formar o que costumam chamar de "rolinho de algodão".  A produção feita na terra, ainda primária, é mandada para as fábricas de tratamento. 

A fazenda Zanotto, é uma das que recebem esses rolinhos, fazendo a separação do algodão e do caroço e a análise para a identificação das pragas. Leandro Henrique Moreira, gerente do Grupo, conta que o processo de separação se inicia pelo desagregador de fardo, e depois passa para a esteira que leva o algodão a usina para passar pela pré-limpeza, e então, descer para o descaroçador, onde começa o processo de separação do caroço e da pluma. 

Após esse processo, é separado a pluma em fardos, e de cada um é retirado amostras que irão para a análise. Uma vai para o laboratório, para verificar o que não se pode enxergar a olho nu, e outra, vai para a sala de qualificação onde os profissionais, chamados de qualificadores, irão fazer uma análise visual. E uma terceira amostra é guardada de contraprova por um ano. 

Aproveitamento do caroço

Foto por: Iasmin Vidal  /  Máquinas de produção da empresa Icofort

 

Após passar pelo descaroçador, o caroço do algodão é embalado no mesmo plástico que os rolinhos e pronto para importação e exportação. Aquela pequena bolinha retirada do algodão será capaz de se transformar em diversos produtos tanto para consumo humano quanto para o animal. 

A Icofort é uma empresa especializada em produtos extraídos do caroço do algodão. Vitor Ramos, analista de produção da empresa, explicou o processo do caroço. "Todo nosso caroço vem pra esses fuziadores. É como se fossem digestores, fase de pressão, onde o processo é contínuo. Temos aí uma temperatura de processo, onde a gente elimina todo tipo de contaminação, seja ela fungos, bactérias, para que nada contamine nosso produto final, principalmente, nosso carro chefe que é o óleo". 

Desse processo será retirado o Línter, produto construído a partir dos fios remanescentes do caroço, e rico em celulose, que é destinado a indústria têxtil, celular, celulose, produção de papel moeda,  cabos de computador, maquiagem e diversos outros. A torta e os farelos do caroço, produtos ricos em proteína, óleo e fibra, com uma nutrição especial, são destinados aos bovinos, caprinos, ovinos e ruminantes, garantindo uma alimentação balanceada, além do aumento na produção de leite e ganho de peso ao rebanho. 

E o óleo, produto extraído do caroço, que é o carro chefe da empresa, rico em vitaminas E, ômegas 3 e 6, sem colesterol, e zero gordura trans, é vendido para grandes marcas de alimentos, como: Girafas, Itambé e Embare. 

O processo realizado e as múltiplas utilidades do algodão podem ser resumidas pelas palavras emitidas pelo presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi, quando diz que a "diversificação é importante, porque produz efetividade". É o algodão produzido no Oeste baiano que está em roupas, em maquiagens, em aparelhos eletrônicos ou, até mesmo, em produtos alimentícios nas distintas cozinhas brasileiras e internacionais. É o algodão que nasce e, também, se reinventa das mãos de quem sabe fazer e de quem consome da ‘poesia algodoeira da vida’.

 

 

 

 

 

 

 

 


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