Ouro Branco do Brasil

Ouro Branco do Brasil

A cotonicultura vai além do cultivo, é a inovação que torna o Brasil o maior exportador de algodão.

Por Sabrina Rodrigues


No Oeste Baiano, a terra aparenta ir de encontro ao céu, coberta por lavouras de algodão que, assemelham-se à maré calma. A riqueza nomeada não é um adereço das vitrines, mas sim o "ouro branco" visto nos campos. Em Luís Eduardo Magalhães, cerca de 955 km de Salvador, a região se sobressai pela significativa geração de grãos, especialmente de algodão. Essa produção revela a união entre o ser humano e a natureza, moldada por investimentos e trabalho que se iniciam antes da temporada de chuvas.

A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), fundada em 31 de maio de 2000, tem um reconhecimento apoiando produtores de algodão na Bahia. Ao longo de seus 24 anos de existência, a associação aprimora a produção do algodão, empregando técnicas sustentáveis como fertilização adequada, correção de solo e controle de elementos tóxicos. Durante anos de dedicação, 86% da área cultivada com algodão na região está certificada pelo Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR). Esse certificado confirma que os associados da Abapa seguem práticas ambientais, sociais e econômicas responsáveis, garantindo a produção do algodão mais branco e brilhante do país.


Foto: Sabrina Rodrigues

No estado, o algodão vai muito além do que é visível nas prateleiras e manequins das capitais. Ele representa uma parte da economia e da vida cotidiana das pessoas envolvidas na cotonicultura. O cotonicultor, por sua vez, com o suporte da organização, torna-se o protagonista. A Abapa assegura que esses profissionais estejam preparados para enfrentar a contrariedade da agricultura. Nesse contexto, o Centro de Treinamento Parceiros da Tecnologia desenvolve iniciativas de capacitação com mais de 90 mil pessoas, respondendo à necessidade de mão-de-obra qualificada. Além de atender à demanda do setor agrícola, os treinamentos gratuitos proporcionam benefícios para a comunidade local. 

"A Bahia, nesses anos, evoluiu, e hoje estamos falando muito bem do uso de biológicos, rotação de culturas e plantio direto. Então, quero dizer o seguinte: a agricultura está evoluindo de acordo com a necessidade, e o produtor precisa ser inteligente para reconhecer que a natureza é uma aliada. Ela tem suas leis, e ele deve respeitá-las”, disse o presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi.

Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da Abapa
Foto: Sabrina Rodrigues


Bergamaschi também explica que, é necessário reduzir o uso de insumos sintéticos no controle biológico das plantações e adotar bioinsumos, desenvolvidos a partir de enzimas, extratos, microrganismos e feromônios. Um resultado visível dessas novas práticas é que a indústria nacional de algodão se tornou quase autossuficiente, esses esforços têm valorizado a produção de algodão no mercado nacional e internacional. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o Brasil, que representa apenas 0,2% da produção global, manifestou-se como uma das principais potências do setor, produzindo mais de 3 milhões de toneladas de algodão por ano e consumindo cerca de 720 mil toneladas. A modernização das práticas agrícolas no cerrado e o uso de tecnologia avançada transformaram solos improdutivos em campos férteis, resultando em uma expansão territorial de 19,5%, totalizando aproximadamente 2 milhões de hectares.

A safra 2023-2024 marcou uma conquista histórica ao tornar o Brasil o maior exportador mundial de algodão, com uma produção de 3,67 milhões de toneladas e um aumento de 13,4% em relação à safra anterior. Com uma produtividade de 1.841 kg por hectare, o país se destaca como o maior produtor de algodão em regime de sequeiro, cultivado apenas com água das chuvas e umidade do solo, refletindo sobretudo o impacto positivo das terras baianas e as inovações no setor.

Para Júlio César Busato a tecnologia e novas técnicas de produção são chave para o sucesso do algodão baiano. "Com as tecnologias que a gente tem, que hoje foram implementadas, se planta com pouca chuva, em termos de genética também. Então, houve uma dominação desse bioma para ser possível plantar, chegar nos produtos e tecnologias que a gente tem”, diz.

Júlio César Busato, produtor e membro do conselho consultivo da Abapa 
Foto: Abapa / reprodução

Sustentabilidade na Produção de Algodão

A Fazenda Santa Isabel, do Grupo Franciosi, está situada em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, e é um destaque na produção de algodão irrigado e soja. Com uma área de mais de 81,9 mil hectares, iniciou suas atividades em 1986 com apenas 300 hectares. Desde então, tem se destacado tanto o desenvolvimento econômico quanto a preservação do cerrado. A fazenda adota tecnologias avançadas para o monitoramento das condições climáticas e do solo, permitindo ajustes na irrigação e garantindo a utilização dos recursos hídricos.

No setor de cotonicultura, a empresa Zanotto, associada à Abapa, é responsável pela separação das fibras do caroço de algodão, que são posteriormente enviadas para a Icofort e outras indústrias para processamento. O processo é projetado para aproveitar todas as partes do algodão, inclusive aquelas que normalmente seriam descartadas. Alessandra Zanotto, vice-presidente da Abapa, destaca a importância da sustentabilidade na produção de algodão. "100% do algodão é aproveitado. 100% do módulo é aproveitado. Inclusive essa lona é toda reciclável. A gente usa ela na usina para envelopar os caminhões carregados de caroço, para que fiquem compactados. Também vendemos para fábricas que fazem reciclados, produzindo vassouras e outros itens.”

Alessandra Zanotto, vice-presidente da Abapa
Foto: Sabrina Rodrigues


Na Icofort, o caroço de algodão é totalmente aproveitado, gerando produtos como margarina, óleo refinado (sem girassol) e adubo. Sendo líder na produção de subprodutos de caroço de algodão no Norte/Nordeste, a empresa utiliza todas suas sobras — incluindo caroços, óleo, línter, torta e farelo — para diversas finalidades, desde a saúde animal até a sua produtividade. A cotonicultura não se limita à produção de fibras, mas também promove a sustentabilidade agrícola.

Vitor Ramos, analista de produção da Icofort desde 2011, vê o processamento de caroço de algodão como uma grande oportunidade sustentável. “O algodão é chamado de 'ouro branco' porque cada parte dele é aproveitada: da casca à pluma e ao caroço. O caroço, por exemplo, é transformado em biodiesel, ajudando na redução do uso de petróleo. A Icofort já está investindo nessa área, transformando tudo o que o algodão oferece”, afirmou.

Vitor Ramos, analista de produção da Icofort
Foto: Abapa / reprodução


Algodão na Indústria da Moda

As passarelas são palcos onde o algodão desfila. Através das roupas, o resultado une a habilidade dos produtores à criatividade dos estilistas. Não é apenas sobre vestir, mas sobre investir no cuidado do plantio, do solo e da mão de obra que exige atenção à qualidade do que é produzido. O Centro de Análise de Fibras da Abapa, o maior da América Latina e um dos mais renomados do Brasil, está estrategicamente localizado em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, e atende a 100% dos produtores de algodão do estado. Por lá, o algodão do Oeste da Bahia passa por uma inspeção rígida, que inclui avaliação visual e testes tecnológicos com o High Volume Instrument (HVI), medindo características da fibra. Após a triagem, o algodão é separado em lotes homogêneos, protegido e enviado aos mercados internacionais.

"Cada fardo de algodão é analisado para medir comprimento, resistência e finura da fibra, o que ajuda a avaliar sua qualidade e valor comercial, permitindo ao produtor entender melhor o produto e definir o preço de mercado", explicou Sérgio Alberto Brentano, gerente do Centro de Análise de Fibras da Abapa.

Sérgio Alberto Brentano, gerente do Centro de Análise de Fibras da Abapa
Foto: Abapa / reprodução

O movimento “Sou De Algodão”, promovido pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), defende a qualidade e a sustentabilidade, unindo todos os elos da cadeia produtiva do algodão e da indústria têxtil. Esse compromisso é visto pelo movimento em colaboração com a Casa de Criadores e o programa de rastreabilidade, conectando estudantes e designers à produção de moda autoral, utilizando algodão brasileiro e suas práticas inovadoras.

O programa de rastreabilidade, por sua vez, oferece um "raio-x" das peças através de etiquetas, mostrando o caminho do algodão até o consumidor. Isso não apenas aumenta a transparência, permitindo escolhas mais informadas, mas também garante que o algodão seja certificado socioambientalmente pelo programa ABR. Assim, o movimento proporciona uma moda única e sustentável, reforçando o papel do algodão brasileiro em um futuro mais responsável para a indústria da moda.

Foto: Divulgação/Sou de Algodão/C&A

Silmara Ferraresi, diretora de relações institucionais da Abrapa e gestora do movimento Sou De Algodão, afirma a importância da criatividade, inovação e sustentabilidade na moda. “Os estilistas são verdadeiros artistas. Marcas na Bahia, como Meninos Rei, Dendezeiro e Atelier Mão de Mãe, que são parte do movimento, têm uma enorme contribuição para a indústria têxtil e a moda brasileira. Valorizar esses pequenos detalhes e a moda autoral é uma forma de apoiar uma moda responsável e sustentável."







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