OURO BRANCO EM FORMA DE PLUMAS

Caminhos do algodão: do oeste baiano para o mundo

Publicação: Segunda-feira, 18 de setembro de 2023 às 16:34

Por: Denis dos Santos 

Foto: Denis dos Santos (Bastystonne)

Ao viajar para o oeste, na divisa da Bahia com Tocantins e Goiás, encontraremos a pujante Luís Eduardo Magalhães, ou (LEM), como é conhecida por seus moradores. Emancipada em 30 de março de 2000, segundo levantamento do último censo do IBGE realizado em 2022, a cidade registrou um aumento populacional de 79,5%, comparado ao censo anterior. Saindo de 47.804 para 107,909 habitantes, o município foi o responsável pelo o maior crescimento populacional no estado.

Luís Eduardo Magalhães situa-se a cerca de 1.000 km de Salvador, com expressiva vocação para o agronegócio, integrada a Região Econômica Brasileira do MATOPIBA (acrônimo para os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). LEM tem como principais cultivos, as produções de soja (564.904 toneladas), milho (133.650 toneladas) e algodão (78.024 toneladas), dados referentes ao último processo de colheita, representando o sétimo maior PIB da Bahia, com R$ 6,2 bilhões.

Foto: Denis dos Santos (Bastystonne)
 

A cotonicultura, em especial, é o setor responsável por fazer a jovem cidade despontar industrialmente, ficando em segundo lugar no ranking nacional, perdendo apenas para o feixe de produção no Mato Grosso. LEM é o maior exportador do estado e tem 16,74% na balança comercial, representando um volume de US$1.281,454 em negócios. Inclusive, dados apontam que a cidade continuará neste crescimento exponencial, o que se refletirá nos índices populacionais, amplificando e aquecendo ainda mais o mercado produtor, principalmente a cultura do algodão.

Com isso, a Bahia poderá se aproximar dos números da produção algodoeira mato-grossense, abrindo ainda mais o campo das oportunidades na região, possibilitando novos investimentos, contratações de profissionais bem treinados de vários setores, maquinário com tecnologia de última geração e desobstruindo o processo de escoamento, agilizando a logística e o transporte, trazendo prosperidade e progresso para o território baiano.

 

ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO LOGÍSTICA E TRANSPORTE

Foto: Denis dos Santos (Bastystonne)

 A região detém uma malha de 7 mil km de estradas vicinais e, são por estas pavimentações que as fazendas se conectam com as principais rodovias, facilitando o deslocamento dos maquinários, bem como o escoamento dos insumos e produtos colhidos nas safras. Pensando nisso, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA), junto com produtores e associações financiadoras, criaram um projeto de aquisição de máquinas, insumos e veículos auxiliares, chamado de “Patrulha Mecanizada”, que tem como principal objetivo, a conservação dos recursos naturais das lavouras de algodão e o escoamento da sua produção, através da recuperação e manutenção das estradas vicinais e de pavimentação asfáltica. Desde sua criação em 2013, até o ano passado, as patrulhas mecanizadas já recuperaram 5.950 km de estradas vicinais, numa pavimentação equivalente a 230,00 km no total.

A Estrada do Café foi uma das beneficiadas com este programa, tendo 58 km já recuperados. Contemplando fazendas da região e facilitando o escoamento, este projeto contemplou a produção da Fazenda Santo Antônio, pertencente ao Grupo Franciosi. Eles possuem uma área produtiva de mais de 81 mil hectares, dividida em 7 fazendas do grupo, tendo colhido na última safra (2021/2022) um total de 7,7 milhões de arrobas de algodão capulho, assegurando empregabilidade, avanço e visibilidade para a produção industrial baiana diante do cenário brasileiro.

 

                                             Foto: Denis dos Santos (Bastystonne)

A Fazenda Santa Isabel, é outra pertencente ao grupo Franciosi, que tem Edinaldo Ribeiro como gerente administrativo, porém ainda lá não foi beneficiada no processo. Segundo Ribeiro, a importância de ter uma boa logística no escoamento dos seus produtos é fundamental: “hoje os produtores associados à ABAPA tem uma equipe só de terraplanagem, então, eles fazem asfalto, reformam estradas. Houve a necessidade no passado e o governo do estado não tinha condição de atender todas as demandas dos produtores, então, foi feito isso, o programa da Patrulha Mecanizada, que era um gargalo para o produtor”.

Ribeiro também reflete sobre as metodologias e benefícios da logística de transporte do grupo. “Essa dinâmica aqui na fazenda acontece em duas etapas, o movimento do ‘puxo interno’ que é realizado por frota própria e atende a produção das lavouras do grupo e que direciona para os silos e algodoeiras, e o ‘puxa’ esse transporte é sublocado pelo comprador do algodão”.

                                             Foto: Denis dos Santos (Bastystonne)
 

No processo de beneficiamento, transporte e logística pós-lavoura, fomos até a Algodoeira Zanotto. Lá, conversamos com Alessandra Zanotto, vice-presidente da ABAPA, e seus sócios, Dionísio João Zanotto e Fernanda Zanotto. Eles detalharam o processo de beneficiamento do algodão, começando na chegada das carretas que vem das lavouras com 130 rolos pesando uma média de 25 toneladas. Ao passar por uma série de registro, são retiradas amostras para avaliação do peso, percentual de umidade, transgenia e teor de pureza do produto. Logo depois, é descarregado e enviado para usinagem, onde começa a separação das sementes da fibra por um processo mecânico, sendo a primeira parte do processamento do produto.

Essa etapa exige muita atenção, pois a depreciação do algodão deve ser mínima. Quanto mais seca a fibra, mais preservada as características do algodão. As plumas são separadas em fardinhos de 230 quilos. E, neste processo, são retiradas plumas, fibrilas, casquilhos, resíduos e caroços, cada um com um destino diferente. Já no processo de logística e transporte após usinagem, Alessandra Zanotto detalhou que esse processo é feito pelos produtores. Depende de como ele faz a comercialização do seu algodão, podendo contratar uma transportadora ou o comprador, que pode ser a indústria ou a própria trade. “Mas aqui na região a gente é muito bem servido de prestadores de serviço exclusivos para isso, né? Lembrando que o algodão é um produto de valor agregado, então a gente sempre se preocupa em ter uma logística assegurada, com caminhões assegurados, com motoristas que também têm toda uma experiência de transporte... os caminhões são rastreados, então toda essa carga, principalmente quando ela é vendida, sai da algodoeira até o destino final, que é uma fábrica ou até o porto para ser exportada, sempre rastreada,” ressaltou Alessandra.

 Foto: Denis dos Santos (Bastystonne)

ALGODÃO PARA O MUNDO

Seguindo o processo dos caroços nas indústrias alimentícias, chegamos à empresa ICOFORT Agroindustrial, grupo que tem uma sede em Luís Eduardo Magalhães. Lá eles produzem tortas de algodão para a nutrição animal, óleo da palma do algodão, que oferece produtos como óleo, margarina e gordura, além do línter, produto construído com fios do algodão remanescente do beneficiamento do caroço. Essa é a matéria-prima base para a construção de placas de vídeo, telas de LCD e LED, além de ser amplamente utilizado na indústria têxtil, celulose, papel moeda, tecnologia e mercado de beleza. Já as plumas percorrem um caminho diferente, depois de transitar por estradas sinuosas em carretas, o algodão baiano abastece tanto o mercado interno como o externo.

 Foto: Denis dos Santos (Bastystonne)

Guilherme Baldan, da Wilson Sons Logística Portuária e Marítima, especialista na área de Logística, Comércio Exterior, Vendas Consultivas, Negociação, Portos e Cabotagem, nos explicou os caminhos do algodão depois da saída da algodoeira. Em seu depoimento, ele delineia que esta produção é negociada por uma trade, isto é, empresas que têm basicamente a função de compra e venda, tendo função de negociador intermediário. “As trades negociam com empresas marítimas se a venda for para fora, se for exportação e as empresas marítimas disponibilizam os contêineres nesses terminais para estufagem e aí as trades trazem com caminhão lá do oeste baiano para cá, para esses locais onde o contêiner vai estar vazio, esperando para ser estufada e aqui nos terminais, assim como o nosso, estufa isso e coloca dentro do porto para ser levado no navio que a empresa contratou”. Ainda acrescentou que “este algodão estufado nos portos é enviado geralmente para o mercado asiático”.

Hoje, 97,8% das cargas de algodão são produzidas na região oeste e são enviadas para o porto de Santos, haja vista a sua estrutura mais ampla. Já no porto de Salvador, a exportação ainda é bastante pontual e, mesmo sendo reduzida para algodão, já vem conquistando seu espaço no mercado internacional. Em 2023, o porto de Salvador começou forte na exportação da commodity, enviando para vários destinos, tais como Turquia, Paquistão e Bangladesh. A China, forte no mercado externo, ainda não, pois ainda não possui uma rota direta para lá. Baldan também ressaltou que vem tentando buscar novas oportunidades de carga para encaixar dentro desta rota, estabelecendo mais opções para esses exportadores. “O caminhoneiro envolvido no processo que vem para cá também é o mesmo que vai para Santos, então eles têm o dobro da distância de quilômetros, mas a gente tem muita possibilidade de trazer as coisas para cá, mesmo nesse momento, só da Turquia, Paquistão e Bangladesh. Mas o Vietnã e a China são grandes players”.

 Foto: Denis dos Santos (Bastystonne)

Mesmo com toda expectativa de boa produtividade vinda da região oeste, e concentrando uma rica produção de plumas na Bahia, todo esse resultado se dá pela eficácia na produção volumétrica, celeridade na colheita, retirada e na distribuição desta produção. Para isso, os produtores têm que contar com estradas em perfeitas condições de uso. Dando uma maior vazão no escoamento, passando assim a comandar as diretrizes do jogo, sendo ainda mais competitivo e mostrando suas principais características. Entregar alvas plumas em forma de nuvem, desde o seu plantio até o estufamento do algodão dentro dos contêineres, processo que é realizado nos portos a caminho do seu destinatário final.



 Foto: Denis dos Santos (Bastystonne)




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