O ouro branco da Bahia: saiba por que o algodão do Oeste movimenta a economia do estado
Por: Matheus Silva Santos
Conhecido como o ouro branco da Bahia, o algodão vem ganhando cada vez mais destaque nos pólos agrícolas do Brasil. O estado é o segundo que mais produz e exporta algodão em pluma no país, ficando atrás apenas do Mato Grosso. O Oeste baiano se consagra por ter a maior área de plantio, com 308,9 mil hectares. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), em 2022 a Bahia exportou 302,3 mil toneladas de algodão, que teve como destino a Ásia, Europa, Américas, África e Oriente Médio.
Da planta é possível aproveitar 100% da matéria prima, produzindo desde fibra para confecção de roupas até óleo de cozinha, ração para animais e biocombustível. O algodão tem movimentado, de forma responsável e sustentável, toda estrutura econômica do país, uma vez que a indústria têxtil é a segunda cadeia que mais emprega no Brasil.
O algodoeiro é uma planta de ciclo perene, mas para uma otimização produtiva é comercialmente cultivada como cultura de ciclo anual e de baixa estatura. Um dos principais aliados para o sucesso do cultivo na Bahia, principalmente na região Oeste, segue sendo o clima tropical, com estações bem definidas, o que favorece a planta.
Do plantio a colheita sustentável
A plantação do algodão requer um ciclo de cultivo que leva em torno de 180 dias para se completar. Nesse período, as plantas crescem, florescem e os capulhos (nome dado ao fruto do algodoeiro) são colhidos para posteriormente se transformarem nos mais diversos produtos. De acordo com a Sou de Algodão, movimento que estimula a moda responsável no Brasil, mais de 90% das plantações no país dependem apenas da água da chuva para se desenvolver. Das produções, 84% possuem certificação socioambiental que aprovam a prática.
O mesmo solo utilizado para o plantio do algodão também é bastante aproveitado para o cultivo da soja. O grupo Franciosi é referência na prática desse tipo de plantio. Com cinco fazendas localizadas em Luís Eduardo Magalhães, e uma em Piauí, mais de 81,9 mil hectares do grupo é remanejado, obtendo mais de 3,7 milhões de saca de soja e mais de 7,7 milhões de arrobas de algodão capulho, tudo isso na última safra de 2021 e 2022.
Beneficiamento
Após a colheita, que é realizada por meio de máquinas Cotton Picker, os capulhos desabrochados são embalados em rolos de plástico filme, que chegam a ter aproximadamente 2,3 mil quilos, e são levados para a fase de beneficiamento, processo que separa a pluma dos caroços, popularmente conhecido como descaroçamento.
Nessa fase, a pluma do algodão é separada da semente e todas as impurezas são retiradas. Em seguida, acontece a prensagem, que embala as plumas em fardos de aproximadamente 220 quilos para seguirem para o centro de análise. Este processo, observa as características intrínsecas e extrínsecas do algodão. Essa análise consiste em detalhar as características visíveis e não visíveis a olho nu de cada fibra. Após isso, a pluma é selecionada e destinada para a venda ou encaminhada para fiação, onde são transformadas em fio.
Algodões com o selo Algodão Brasileiro Responsável (ABR) também recebem um código de barras do Sistema Abrapa de Identificação (SAI), que garante 100% da rastreabilidade do produto. O programa ABR foi implantado em 2012 pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) para garantir o comprometimento dos produtores com a sustentabilidade ambiental, social e econômica.
Processo de beneficiamento, prensagem e análise intrínsecas e extrínsecas das plumas. Fotos: Matheus Lens
Inimigo do algodão
Uma das maiores preocupações dos agricultores que cultivam o algodão é o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis). Da família dos curculionídeos, de coloração cinzenta ou castanha, o inseto apresenta grande risco à plantação ao perfurar o botão floral ou maçã dos algodoeiros, onde são depositados seus ovos que posteriormente evoluem para larvas e impedem que o broto floresça. O inseto chegou ao Brasil por volta de 1983 e já causou muito prejuízo a diversas lavouras na Bahia e no Brasil.
Para auxiliar no combate à praga, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) desenvolveu o Programa Fitossanitário, que visa monitorar o avanço de pragas nas plantações do Oeste e Sudoeste da Bahia. "A região Sudoeste foi dizimada pelo bicudo. Eles plantavam mais de 300 mil hectares de algodão e hoje plantam apenas 6 mil. Hoje temos o monitoramento semanal de todas as fazendas de algodão para repasse da situação do plantio ao manejo e os principais cuidados para evitar e tratar das diversas pragas", afirma Antônio Carlos, coordenador do programa.
1001 utilidades do caroço
A pluma do algodão é uma das matérias primas mais conhecidas entre os consumidores, mas o que poucos sabem é que seu caroço também é utilizado para desenvolver coisas que estão presentes em nosso cotidiano.
Após o descaroçamento, o caroço do algodão passa por um processo de limpeza para ser retirado todo resíduo da pluma. Cerca de 40% da planta de algodão é fibra, que é aproveitada pela indústria têxtil. Já os 60% são formados pelo caroço, matéria prima de onde se extrai o óleo que é utilizado para produzir óleo de cozinha, margarina e biodiesel, uma grande aposta para substituir os combustíveis fósseis no futuro. De acordo com estudos da Universidade de São Paulo (USP), no Nordeste o biodiesel produzido por caroço de algodão é mais barato que o biodiesel de soja.
No município de Luís Eduardo Magalhães, na região oeste da Bahia, está sediada a Icofort, maior empresa do norte/nordeste em processamento de caroço de algodão. A indústria tem capacidade de processar mais de 250 mil toneladas de caroços por saco e 150 mil toneladas de óleo vegetal. A Icofort também é responsável pela produção de tortas de algodão, um subproduto obtido após extração do óleo através de prensa mecânica. A torta é utilizada como componente alimentar e suplementação na dieta de animais ruminantes em geral.
As minifibras que ficam grudadas nos caroços de algodão também são aproveitadas como principais componentes para a produção do línter, matéria prima base para a construção de placas de vídeo, telas de LCD, LED, além de ser amplamente utilizadas para a fabricação de papel moeda, algodão de farmácia, gaze e tecidos cirúrgicos.
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