Algodão: o novo ouro baiano
O novo integrante da Matopiba tem comercializado a
fibra que tem mudado vidas.
Autor (a): Fernanda Luiza dos Santos Gonçalves
O algodão é a commodity que pode ser considerada uma das mais bem aproveitadas do
mundo, podendo produzir materiais distintos desde sua semente até a sua pluma.
É de conhecimento geral que tecidos podem ser produzidos a partir dele, além
disso, o material pode ser utilizado para a fabricação de telas de celular.
Então, pode-se dizer que o termo “agro é ‘pop’, agro é tudo” nunca veio tanto
“a calhar”.
A sua semente é rica em celulose, um polímero natural que em linhas
gerais é um componente que detém microfibras que permitem a sua compactação
para ser transformada, por exemplo, em uma tela de LCD. A informação ressalta
que o material realmente pode ser 100% aproveitado, fazendo com que ele se
destaque dos outros em alguns requisitos.
Por esse motivo, em Luís Eduardo
Magalhães (LEM), na Bahia, observou-se um crescimento expressivo no número de
habitantes, sendo estimado mais de 92 mil pessoas em 2021, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado reflete um dos mais novos
potenciais descobertos: os benefícios do algodão. Vale destacar que o LEM é o
mais recente integrante da Matopiba — composta pelos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — grupo em
que se encontram grande parte dos produtores rurais.
A região tem contado com o apoio da
Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) para a fomentação de
práticas que viabilizem a produção e melhor qualificação no mercado nacional e
internacional da commodity.
Que
práticas são essas?
Desde 2012 a Abrapa intensificou a iniciativa
de sustentabilidade com o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR). O
movimento trouxe mais confiança para o mercado nacional e internacional, além
de dar mais segurança para o consumidor final.
O programa ABR estabeleceu um protocolo
com 183 itens que englobam normas que atendem aos critérios nacionais e
internacionais de leis trabalhistas e ambientais. Ou seja, o grande foco é
tornar a atividade mais humana possível. Mesmo com a automação do setor, a
presença de pessoas é imprescindível para o bom desempenho da algodoeira.
Atrelado a isso, o programa se uniu à
empresa suíça Better Cotton Initiative. Desde 2013 o ABR atua junto à
organização para desenvolver melhores práticas de gerenciamento. A Better
Cotton já promove a produção sustentável de algodão em mais de 20 países.
O Brasil é um dos
maiores exportadores de algodão do mundo, tendo como um dos principais destinos
a Ásia. Para chegar neste patamar a commodity
passa por uma série de classificações e avaliações. Esses processos são fundamentais
e se iniciam com a sua colheita. Após o material ser colhido ele é identificado
por um QR Code onde é registrado quem o produziu, a fazenda onde foi plantado e
informações adicionais.
Passada essa etapa, o algodão vai para o
processo de beneficiamento, onde a pluma é separada da semente de modo que não
afete a qualidade da fibra. “O caroço vai para um armazém e depois vai ser
comercializado para ração animal, óleo e toda aquela parte inerente à questão
do caroço”, explica Sérgio Brentano, gerente de laboratório da Associação
Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA). Já em relação à fibra, Brentano
acrescenta que ela é prensada e, geralmente, destinada às indústrias têxteis
para a fabricação de tecido.
Essa nova modalidade de rastreamento é
inovadora para o mercado do algodão, pois traz consciência para o consumidor
final de que o produto que ele está comprando contém algodão. Além de ser um
diferencial, porque ele terá certeza de que o material utilizado para a sua
fabricação é seguro e contém a aprovação da Abrapa.
Além
dos números
A ABAPA, braço da ABRAPA na Bahia,
inaugurou o Centro de Treinamento & Tecnologia em 2010. A iniciativa já
beneficiou mais de 66 mil pessoas com as ações de capacitação que foram
implementadas. Áreas como Informática, Mecanização Agrícola e Controle, Redução
e Monitoramento de Poluentes para Veículos à diesel foram contempladas.
No total, até 2022, mais de 2 mil
treinamentos foram realizados e 1.228 fazendas foram atendidas. Com a promoção
dos cursos, a entidade busca garantir que haja mais segurança nas atividades
atreladas à cotonicultura.
A ideia do projeto é acolher os pequenos
produtores e capacitá-los. “Falando dos pequenos produtores, a ideia é também
fazer eles se sentirem pertencentes ao setor de modo geral. É uma forma que a
ABAPA tem de incentivar o agro (negócio), mesmo que em pequenas propriedades”,
explica Alessandra Zanotto, diretora do Grupo Zanotto e vice-presidente da
ABAPA.
“Muitas vezes um pequeno produtor não
consegue cultivar o algodão, pois é uma cultura que demanda não só
investimento, mas muita técnica”, completa Zanotto. De fato a produção de
algodão carece de muito investimento e cuidados, mas a vice-presidente
acrescenta que além desta commodity,
a ABAPA trata de várias culturas ligadas ao agronegócio e assiste esses
pequenos produtores.
O
crescimento e dificuldades do mercado de algodão
Informações da ABAPA apontam que o
algodão produzido no oeste baiano abastece toda a demanda nacional pela commodity, assim como a internacional.
Um dos motivos para esse bom resultado é o clima e o solo que são favoráveis.
Vale ressaltar que essa informação pode ser comprovada com os inúmeros testes
de qualidade realizados pela instituição.
Trazendo dados comprobatórios, uma
pesquisa realizada pela associação apontou que a semeadura da safra 2021/2022,
do algodão baiano, teve crescimento de 15% da área plantada, em relação ao
período anterior. Isso aponta um avanço na produção devido às boas condições,
que têm impactado positivamente na qualidade do algodão. Na safra de 2021/2022
a área plantada chegou a mais de 300 mil hectares.
Grande parte desse avanço se dá por
esforços intelectuais e tecnológicos dos que compõem o setor. As plantações
sofriam com uma praga chamada Bicudo do algodão. Não se sabe ao certo quando o
Bicudo surgiu no território nacional, mas os estudos apontam que,
possivelmente, foi em 1843 fazendo a produção cair drasticamente e devastando
várias plantações. Atualmente ele é controlado e ainda não se tem "armas
biológicas" para combatê-lo, por isso é necessário o uso de químicos.
Contudo, são realizadas pesquisas e
estudos recorrentes para que a menor quantidade de químicos sejam usados no
processo de plantação e produção do algodão. Um dos desafios é elevar a matéria
orgânica do solo (carbono) na Bahia, devido ao clima tropical da região.
Na 21ª Conferência das Nações Unidas
sobre as Mudanças Climáticas (COP 21) foi aprovada a iniciativa de ações
voluntárias dos países que o teor de carbono seja elevado nos solos mundiais.
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