Algo além do algodão

Um movimento de fibra que se destaca no agronegócio do Oeste Baiano


Por Brenda Helen Freire da Rocha

Fazenda Santo Antônio, em Luís Eduardo Magalhães - BA. Foto: Brenda Freire


Já ouviu a expressão: “faça do limão uma limonada”? Típica frase que interpreta a diversidade que se pode fazer de algo, visando o resultado. Pois bem, assim é o algodão, que da matéria prima, se tem uma multiplicidade de uso, sendo uma das principais forças do agronegócio nacional. Das lavouras, fazendas e usinas, a cotonicultura não se resume especialmente à produtos, mas também aos trabalhadores que fazem do empenho, realização, do “algodão, uma verdadeira algodoeira”.  

Do plantio à entrega de um produto para o consumidor final são algumas etapas que passam pelas mãos dos cotonicultores. No prazo de cerca de um ano, é possível finalizar os processos de cultivo, colheita, beneficiamento (onde a fibra do algodão é separada do caroço) e produção da indústria a que o tipo de algodão é destinado. Seguindo essa rota sob uma gestão sustentável que transforma a pluma, o línter, a fibrilha, o caroço, a casquinha e uma série de elementos, a Bahia alcançou o patamar de segunda maior produtora de algodão do país, ficando para trás somente do Mato Grosso, e se estabelece até hoje no cenário do agro nacional.


Fardos de línter (subproduto proveniente da planta do algodão) e sementes do algodão, respectivamente. Fotos: Brenda Freire

Os índices de produtividade média entre os maiores produtores do planeta ganham mais destaque na região Oeste – que ocupa aproximadamente 350 mil hectares – e atua com o regime de sequeiro, onde a água da chuva é reaproveitada e a lavoura não precisa de irrigação em estações secas.

De acordo com Alessandra Zanotto, vice-presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e responsável pela usina de beneficiamento Zanotto Cotton, isso se deve porque o “algodão é sinônimo de progresso”. Para ela, o material traz valor agregado e empregabilidade que demandam de profissionalismo.

A fim de incentivar o agronegócio e qualificar as habilidades dos trabalhadores, sejam eles funcionários da instituição ou produtores independentes, a Abapa desenvolveu alguns projetos que movimentam o crescimento dessa cultura. Um deles, é o Centro de Treinamento Parceiros da Tecnologia (CT), que oferta treinamentos para quem trabalha dentro ou fora das fazendas, gratuitamente.

Foram investidos 17 milhões de reais para que esse movimento acontecesse. Com o apoio financeiro do Instituto Brasileiro de Algodão (IBA) e do Fundeagro, além de empresas parceiras como o SENAI e IEL, foi possível fazer a parceria acontecer e promover educação e capacitação profissional às pessoas. Motivo de orgulho, confirmado pelo Presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi, que em discurso deixa claro a importância da unidade em prol do crescimento do agronegócio, quando destaca que: “nós não fizemos sozinhos”.

Centro de Treinamento da Abapa. Foto: Brenda Freire


É nessa lavoura de oportunidades, que mais de 66 mil pessoas foram treinadas e capacitadas para trabalhar com o cultivo do algodão no cerrado baiano.

Vivendo do algodão

Pessoas que vêm de fora do Estado, encontram a oportunidade para trabalhar com o que as deixam felizes. Regis Ceolin, produtor de algodão e diretor do Grupo Ceolin, conta que foi há 18 anos que se apaixonou pela cultura do algodão na Bahia. Hoje, através da cotonicultura, além dele, outras pessoas são movidas pelo amor ao algodão.

Antônio Carlos Santos, é um exemplo. Há nove anos coordena o Programa Fitossanitário da Abapa e não esconde a sua satisfação de trabalhar com o monitoramento das principais pragas e doenças do algodoeiro, a fim de prever possíveis problemas nas fazendas.

“Eu se pudesse, ficava 24h por dia na lavoura. Eu vivo o algodão”, conta.

Antônio Carlos Santos, coordenador fitossanitário. Foto: Brenda Freire


É o caso também, do auxiliar de mecânico da Fazenda Santo Antônio, do Grupo Ceolin, Raimundo Vieira. Ele, que veio do Piauí conta que em oito meses de empresa tem aprimorado suas habilidades. “Aqui é bom, porque você faz diversas funções. Então para mim, a experiência é melhor”.

Raimundo Vieira, auxiliar de mecânico. Foto: Brenda Freire


Sou de algodão

E falando de rastreamento, você sabia que é possível acompanhar todo caminho percorrido para criar uma peça de roupa de algodão?

Pois bem, o movimento Sou de Algodão, desenvolvido em 2016 pela Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) com o objetivo de integrar os agentes da cadeia produtiva e da indústria têxtil e gerar uma moda mais consciente, criou esse sistema.

Tecelões, artesãos, trabalhadores do campo, estilistas, designs de moda e estudantes são parte desse projeto que fazem do algodão retirado das lavouras, uma peça de roupa sustentável e rastreável da semente à roupa que vestimos.

 

Além da pluma, o caroço!

A pluma é o principal produto do algodão, mas não apenas ela, como todos os outros elementos do algodão são aproveitados, inclusive, o caroço!

Dele, pode ser extraídos o óleo cru, destinado para a base de produção do biodiesel e também desenvolvido a ração animal (seja em farelo ou em torta de algodão - próprias para bovinos em fase adulta e gado leiteiro).

Uma das empresas referência em processamento desse subproduto, a Icofort, já forneceu 20 milhões de sacas de ingredientes para a nutrição animal, promovendo 500 empregos diretos em regiões como Luís Eduardo Magalhães e Juazeiro.

Caroço de algodão. Foto: Brenda Freire


Projeção que avança em resultados

Essa construção de trabalho que promove benefícios para quem se envolve com a cultura do algodão, acontece também graças a programas como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e Better Cotton Initiative (BCI). Através dessa certificação nacional e internacional, respectivamente, pode-se garantir a segurança da produção da fibra, seguindo os pilares social, econômico e ambiental da sustentabilidade.

Dentro desses aspectos, a cotonicultura baiana ganha espaço na economia e alcança bons resultados. Na safra deste ano, foram produzidos cerca de 300@/ha de algodão por área, resultando aproximadamente 590 mil toneladas. Um dos destaques para a Bahia no cenário nacional foi o município de São Desidério: o maior em produção de algodão e que já assumiu a liderança em resultados no país em 2020.

O salto do Estado também se deve pelo trabalho de cerca de 140 produtores por toda região. De acordo com Presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi, o cultivo dessa fibra hoje, gera quatro a cinco vezes mais empregos na Bahia se comparado com a agricultura de soja e milho, por exemplo.

Fardos de algodão. Foto: Brenda Freire

Além disso, a previsão de resultados do cultivo do algodão é positiva. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os desafios do agronegócio no país podem trazer bons frutos. O Oeste da Bahia pode crescer 64,5% na safra 2027/2028 e ser responsável por 98% da produção do Brasil, juntamente com o Mato Grosso.

Com investimento nas pesquisas no cultivo algodão, de acordo com o engenheiro agrônomo, Fabiano Perina, torna-se possível ajudar na manutenção do produtor na atividade, assim como promover a longevidade e evolução da produtividade da cultura, que garantem recursos mais sustentáveis, assim como o rastreamento dos processos por meios tecnológicos.

É nesse ambiente de trabalho onde o principal foco é exercer as atividades com amor, que a Bahia cresce e avança no cenário nacional. Hoje, juntamente com outros estados, ela alcança o quarto lugar no ranking brasileiro do Valor Bruto da Produção (VBP) com quase 41 milhões e 300 mil em destaque. Isso só acontece, porque existe dedicação, existem pessoas por trás de processo repleto de etapas, que necessitam de planejamento, estrutura, cuidado com a colheita da a importação até exportação. Tem investimento em trabalhadores, em conhecimento e em tecnologia. Mas principalmente, existe paixão, porque “a maior satisfação de quem produz, é colher bem”, conclui o presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi.

 










 




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