ABAPA utiliza técnicas
sustentáveis no cultivo de algodão
É no oeste da Bahia, que a
cotonicultura investe em alta tecnologia para produção de algodão sustentável e
responsável.
Texto de: Ana Cláudia de Jesus Xavier
Foto: Ana Cláudia Xavier
Você está usando alguma peça de
algodão neste exato momento? Você pode não saber, mas o algodão é um dos
principais materiais, e a cultura mais popular e versátil do mundo. Desde a calça
jeans, para o óleo comestível, ataduras, maionese, biodiesel, mistura para
rações animais, adubos, dinheiro e até a tela do nosso celular ou computador.
Ele está presente em itens do dia a dia que utilizamos e que não fazemos ideia
de cada fibra ou semente que compõem aquele utensílio.
Em média, 35 milhões de hectares
de algodão são plantados anualmente em todo o planeta e essa cultura tem sido
semeada por mais de 60 países. O Brasil nos últimos anos está entre os cinco
principais produtores de algodão do mundo, ficando atrás apenas de países como
os Estados Unidos, China, índia e Paquistão. Ressaltando que o nosso país é o
principal produtor que utiliza técnicas sustentáveis que revolucionam esse
principal cultivo. O Estado da Bahia é o segundo maior produtor de algodão do
Brasil, reconhecido internacionalmente e nacionalmente, - atrás somente do Mato
Grosso -, com uma área total de 309 mil hectares e com uma previsão para este
ano de 530 mil toneladas de produções em plumas.
De acordo com a Associação Baiana
dos Produtores de Algodão (ABAPA), este número é menor do que o previsto,
quando a estimativa era de 588 mil toneladas de algodão, e uma das causas desta
redução significativa são as condições climáticas marcadas pela seca que
impacta na produtividade da fibra. O algodão é responsável por cerca de 98% das
áreas plantadas em toda a região, segundo a ABAPA, sendo que os outros 2% são
produzidos no Sudoeste e 90% da exportação são para países Asiáticos. Sem
sombra de dúvidas, o Oeste da Bahia é sinônimo de algodão.
A extensa
lavoura que de longe parece coberta de neve, faz parte de um revolucionário
avanço na agricultura brasileira. E é devido a tanta versatilidade, que a Cotonicultura
do estado da Bahia investe incessantemente em inovações e tecnologias sempre vinculadas
ao sustentável, aproveitando de tudo que se produz e atendendo a diversos
consumidores, colocando em prática o Triplé da Sustentabilidade, com
iniciativas de impacto real diante de tantos desafios globais acerca do
ecológico em um verdadeiro compromisso com a mudança.
O famoso ouro branco – Foto: Ana Cláudia Xavier
Tecnologia
Quem vê o
algodão já em seu produto final, não sabe quais processos e nem equipamentos
que ajudaram para a sua finalização. A imensa maioria do cultivo do algodão é
feita por produtores que empregam as novas tecnologias de insumos, máquinas e
ferramentas para atingir níveis de alta produtividade e qualidade. O algodão é
produzido em larga escala, com sistema de rastreamento e classificação de
fibras com base em padrões internacionais. Todas as máquinas, como as empilhadeiras,
tratores e caminhões convivem com drones e vants para controle por imagem e
aplicação localizada de produtos.
O algodão baiano hoje é um sucesso por dois fatores: primeiro pela persistência dos agricultores e segundo pela tecnologia que foi desenvolvida ao longo de mais de 20 anos. Existe um crescente aumento de produtividade e isso gerou sustentabilidade para a cultura do algodão, uma cultura extremamente importante para a região.
As máquinas que extraem o algodão – Foto: Ana Cláudia Xavier
Algodão Brasileiro Responsável (ABR)
A meta da ABAPA é tornar o Brasil o primeiro produtor mundial, mas lógico sem deixar de lado o
viés da sustentabilidade. É por isso que o mais integralizado programa de
certificação de pluma sustentável do mundo, baseado em legislações ambientais,
foi elaborado. O programa Algodão Brasileiro Responsável, foi criado em 2012,
com o objetivo de não apenas incentivar a prática do cultivo de algodão, mas
também de abordar questões sociais, como os direitos trabalhistas, a igualdade
de gênero e um compromisso de tolerância zero ao trabalho escravo e infantil. Graças
a essa iniciativa, o nosso país foi consagrado como o maior fornecedor mundial
de algodão produzido em bases sustentáveis.
Mas quais as
vantagens de se ter um algodão responsável? Cotonicultores que pensam a frente
do que lhe é disposto, que olha para as questões econômicas, sociais e
ambientais, incentivam a prática do cultivo orgânico, ou seja, o algodão
orgânico, que é a técnica de produção que não permite o uso de fertilizantes ou
defensivos químicos. Além de estimular a preservação e recuperação de nascentes
e reservas (já foram conservadas 220 nascentes em nove municípios baianos),
encorajam a preservação do solo, dos biomas e da qualidade do ar. E por fim, não
se esquecendo de evidenciar o pilar econômico, onde através de aplicações de
todos esses princípios éticos há fortalecimento de gestões sustentáveis,
retornos financeiros e uma maior organização da cadeia produtiva. Todos esses
quesitos valorizam a cultura do orgânico, efetivamente ecológico e também
conseqüentemente mais saudável.
De acordo com o Presidente
da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA) e produtor
associado da ABAPA, Júlio César Busato, o sonho de todo cotonicultor brasileiro
é tornar o algodão 100% orgânico. Em defesa da safra, a ABRAPA tem buscado
alternativas para manter o crescimento saudável de algodões, utilizando
defensivos que protegem o plantio e combatem às pragas, além de serem menos
agressivos às pessoas e ao meio ambiente. “O nosso grande arque inimigo realmente é o
bicudo do algodoeiro. A ABRAPA já investiu mais de 40 milhões de reais junto
com a Embrapa, buscando uma alternativa que não seja um controle químico.
Infelizmente nós até hoje não conseguimos resolver essa questão. Vamos
desistir? Não. Não vamos desistir”.
O presidente da ABRAPA, também retifica sobre o caminho significativo para a utilização de defensivos agrícolas: “Estamos agora caminhando muito para o uso de defensivos agrícolas biológicos, de origem biológica. Infelizmente na questão do nosso arque inimigo não conseguimos nada que atinja ele”.
Sustentabilidade
A
sustentabilidade do algodão na Bahia é comprovada por dois importantes
programas: o nacional, Algodão Brasileiro Responsável (ABR); e o internacional,
a Better Cotton Initiative, uma ONG suíça que é referência internacional em
licenciamento de algodão.
O presidente
Júlio César apresenta o balanço comparativo com dados que revelam o crescimento
da produtividade nos últimos anos, trazendo como destaque a capacitação
sustentável e tecnológica ao longo de um período de 20 anos.
“Se você vê os
números de produtividade que nós temos de vinte anos atrás e hoje, eles
cresceram muito na mesma área. Eles cresceram porque nós fomos adequando essa
tecnologia e essa tecnologia prioriza principalmente a melhoria, a fertilização
e o aumento da matéria orgânica do nosso solo. E aumentar a matéria orgânica
dos nossos solos, quer dizer aumentar a biovida do nosso solo”, revela.
O presidente explica que fazendas que iniciaram com 1% em matéria orgânica, que normalmente são as áreas de serrado, hoje já possuem 3%. Os dados demonstram o quão realmente está sendo sustentável o modelo agrícola empregado atualmente. Os resultados revelam cada vez mais respostas, não apenas no algodão, mas nas outras culturas como a soja e o milho.
Estoque de algodão na algodoeira do grupo
Zanotto- Foto: Ana Cláudia Xavier
Sou de Algodão
Pensando em
aumentar o consumo de algodão, transferindo um novo olhar a respeito dessa
commodity, a Abrapa e o Instituto Brasileiro de Algodão (IBA), lançaram o
movimento Sou de Algodão. O intuito é unir a cadeia produtiva do algodão e a
indústria têxtil, desde os homens e mulheres do campo até os designers de moda,
os estudantes e consumidores. O objetivo é despertar nas pessoas, um senso
coletivo em torno da moda responsável e de um consumo consciente, escolhendo
por uma produção certificada de qualidade.
Atualmente, 87%
do algodão baiano é certificado, os outros 13% ainda estão em processo de
certificação, ou seja, é um compromisso que a Abapa possui em atender a Sou de
algodão e o Algodão Brasileiro Responsável (ABR). A assessora da Presidência
Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA), Silmara Ferraresi, explica que a
ideia do movimento surgiu após uma preocupação com o público consumidor
Essa iniciativa
é uma resposta ao comprador, pois é através dessa campanha que a
conscientização se faz presente no bolso dos consumidores finais, uma escolha
inteligente de qual material levar. Os benefícios da fibra natural, 100%
algodão, é um dos objetivos do movimento, desde a sua durabilidade como até o
processo sustentável e responsável. Hoje, mais de mil lojistas do país
participam da iniciativa Sou de Algodão. Marcas nacionalmente conhecidas, como:
Marisa, Renner (até 2050 com produção de 80% de algodão), Pernambucanas, Maria
Filó, Reserva e Farm, já abraçaram a ideia.
Silmara Ferraresi diz 84% do algodão possui certificação ambiental
Foto: Reprodução/Abapa
Pensando nisso,
foi criado o programa de rastreabilidade, que nasceu com o intuito de passar
transparência nos processos de compra, venda e consumo. E é através de um
QRCode que o consumidor percorrerá pela internet para rastrear cada peça de
roupa que comprar, ele verá desde o plantio do algodão certificado até as
vitrines das lojas, e terá como saber as condições ambientais e sociais de cada
rolinho ou fardo da commodity a qual foi produzida.
Realmente, não
temos dúvidas de que o algodão é um dos melhores significados e exemplo de
sustentabilidade e tecnologia, na agricultura brasileira. Até porque os dois andam juntos, são únicos e entrelaçados, e é
isso que a ABAPA em ligação com a ABRAPA nos demonstram.
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