Ouro Branco: O plantar do algodão e suas transformações.

Por Heide Moura Rodrigues

(Foto: Heide Moura)



Quando pensamos na palavra algodão, imediatamente nossa memória nos remete àquela fibra esbranquiçada que utilizamos para tirar esmalte das unhas ou fazer um curativo. Entretanto, o que muitos não sabem é que esta planta, também conhecida como ouro branco, pode ser transformada em diversos produtos, além, de melhorar as condições socioeconômicas do país.

Através do evento realizado pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA), o Prêmio ABAPA de Jornalismo, que ocorreu nos dias 19 e 20 de Setembro de 2019, em Luis Eduardo Magalhães (Oeste da Bahia) possibilitou dezenas de estudantes a participar de palestras e visitas técnicas para compreender todos os detalhes do processo de produção do algodão, desde o plantio até a matéria-prima. Isto facultou num entendimento sobre a importância da cotonicultura para as esferas da sustentabilidade social, ambiental e econômica.

De acordo com os dados da Associação, hoje a Bahia é o segundo maior produtor algodão do país, perdendo apenas para o Mato Grosso, e já teve um aumento na exportação com relação ao ano passado. Segundo a  ANEA - Associação Nacional dos Exportadores de Algodão é possível que o Brasil alcance a segunda posição de maior exportador mundial de algodão ainda este ano. Atualmente, cerca de 40% do algodão baiano é exportado para países asiáticos, e 60% é comercializado para as indústrias têxteis no Brasil.

Com relação ao crescimento deste setor, Júlio Cézar Busato, Presidente da ABAPA, relatou: “O que nós produzíamos 5 mil toneladas em 1996, hoje o estado produz cerca de 1 milhão e meio de toneladas. Dá pra ver o quanto crescemos rápido com o algodão”. O presidente também relatou a importância com relação à preservação da área vegetativa. “Nós investimos 11 bilhões em terras para preservação. Ninguém, nenhuma categoria profissional, preserva mais o meio ambiente e dedica mais recursos e tempo a isso do que os produtores rurais brasileiros”, disse. De acordo com a pesquisa da Embrapa, cerca de 65% da área destinada à Vegetação é protegida e preservada.

Além da preservação vegetal, a ABAPA também vem se preocupando com o uso de energia sustentável e verificação do descarte correto de produtos poluentes. “Está se iniciando um processo de uso de energia solar nas fazendas e isto vem sendo incentivado. No Centro de Treinamento da ABAPA - Parceiros da Tecnologia, em Luís Eduardo Magalhães, possuímos uma parceria com a Agrosul/ John Deere e com a Gotemburgo/ Volvo que avaliam o bom funcionamento dos motores das máquinas que utilizamos para produzir. O óleo lubrificante é vendido para reciclagem e os filtros são enviados para uma empresa de descarte certificada”, informou a Associação.

Lavoura Savana 
Foto: Heide Moura
Para o grupo, é importante cativar o público alvo, são eles os Associados ABAPA: Produtores e Funcionários, parceiros, escolas e comunidade. De acordo com os dados da empresa, foram entregues 130 kits entre 2014 e 2019 com efeito multiplicador de 450 ha (hectare). Além disso, eles já executaram o projeto de asfaltamento de estradas, construção de pontes e da campanha “Algodão que aquece”, no qual produziram centenas de agasalhos que foram doados aos necessitados.

Embora seja a planta com maior aproveitamento do mundo, o algodão, só começou a ser investido de verdade na Bahia há duas décadas. De acordo com o produtor rural Fábio Ricardi, da fazenda Savana (lavoura onde realizou-se a visita técnica), o valor do hectare era muito barato. “Quando chegamos aqui, há 20 anos, 01 hectare valia cerca de R$ 5,00 (cinco reais), pois pouco se esperava de um local seco como o serrado. Hoje em dia temos mais de 4.200 hectares de algodão e beneficiamos cerca de 160 famílias com emprego”.

Foi em meio ao clima seco e a uma temperatura de aproximadamente 35º, o mar branco, presente na lavoura, dava lugar a uma linda paisagem: a plantação de algodão. Quem poderia imaginar que o local que já sofreu tanto com a praga bicudo-algodoeiro, um besouro que perfura o botão floral e a maçã dos algodoeiros, poderia se transformar numa vista encantadora? Hoje, com a ajuda da tecnologia, pode-se obter o manejo da lavoura no controle de pragas, doenças e plantas daninhas que proporciona o melhor cultivo da plantação.

Etapas do algodão: Do beneficiamento à matéria- prima

Há 37 anos produzindo, gerando emprego e contribuindo para o desenvolvimento do oeste da Bahia, o grupo familiar Zanotto Cotton tem grande importância para o processamento do algodão. Responsável por fazer o processo de beneficiamento (desmancha dos fardos e separação do caroço da pluma), a empresa afirma: “Nossa missão é fechar com excelência o ciclo produtivo da cultura”.

Desmembramento do algodão – Zanotto Cotton
Após o recebimento da pluma das lavouras, o beneficiamento do algodão que consiste em seis etapas perfeitamente organizadas, tem grande importância para a entrega de um algodão de qualidade. A primeira etapa consiste no desmanche do fardo ou rolinho. Após isto, passa-se pela limpeza e depois para a etapa do descaroçamento, no qual se separa a pluma do caroço. É importante tomar cuidado nesta etapa para não haver contaminação da pluma pelo óleo presente no caroço do algodão, um contaminante para as fiações, que pode prejudicar não só o produtor na comercialização como também a usina na perda de credibilidade de serviço do beneficiamento. Na quarta etapa têm-se a limpeza da pluma, após isso a prensagem da fibrilha (resíduos) e por fim, a prensagem da pluma. 

Depois do processo de separação, todo o desmembramento do algodão é aproveitado e transformado. Da sujeita, têm-se a ração animal ou adubo, do caroço fabrica-se óleo, pólvora, papel moeda, cotonete e algodão de limpeza. Da fibrilha, é produzido o pano de chão, pano de prato, coador e barbante e da pluma produz-se roupas. “É de grande importância à qualidade da pluma para que as roupas sejam produzidas e evitem sair com fiapos. Para isto é necessário que a fibra passe pelo teste de comprimento, espessura, resistência e consistência”, disse Gilson Alves – classificador de Algodão da Zanotto Cotton.

Produtos fabricados pela empresa
ICOFORT. Foto : Heide Moura

Para entender a etapa da transformação do algodão em produto final, visitou-se a ICOFORT. No mercado há 153 anos e com 50 colaboradores responsáveis pelo resultado na região de Luis Eduardo, é uma indústria voltada à produção de matéria-prima com as sementes que são transformadas em alimentos para humanos e animais. “Extraímos o caroço e ele é 100% aproveitado em óleo puro, margarina, ação, línter (matéria prima para tecnologia tela de TV, produtos de beleza, pólvora). O óleo é puro e saudável, rico em vitamina E, ômega 03 e 06, gordura vegetal e é 0% trans”, afirmou Clébson Desidério – gerente de produção da ICOFORT. Na alimentação, embora pouco conhecido, o óleo de algodão é um grande aliado na cozinha. “Rende mais e pode ser reutilizado. Os alimentos não absorvem e ficam mais sequinhos. É qualidade e sabor na mesa do consumidor”, garantiu ele.

 A importância da cadeira produtiva do algodão para economia é muito grande, por isto é preciso olhar para ele com outros olhos, pois, além de ser um dos maiores responsáveis para o aumento do PIB, é também gerador de emprego, renda e qualidade de vida para produtores e consumidores. 















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