Das terras secas e desconhecidas do cerrado da Bahia à império algodoeiro



Oeste Baiano: um case de sucesso. O improvável solo que se transformou no maior complexo produtivo de algodão do país.

Por Camila Falcão de Carvalho
08/10/2019 23h34


                                                                                        Foto: Camila Falcão



É impossível não se encantar com uma imensidão de “nuvens” brotando da terra. A beleza das plantações de algodão é um convite irrecusável para os amantes e apreciadores desta fascinante cultura e uma parada obrigatória para os que estão de passagem pelo oeste baiano.

A região que se consagrou como o pólo do agronegócio, em um passado pouco distante, era considerada apenas, uma vastidão de terra infértil, improdutiva e sem nenhum valor comercial. Apenas quatro décadas separam a realidade do solo ácido e empobrecido do cerrado da Bahia à grande potência agrícola.

A livre oferta de terras e os preços módicos praticados na época, atraiu produtores e empresários de diversas regiões do Brasil, em especial, do sul do país.

“Há 40 anos atrás, 10.000 m² valia o equivalente a cinco reais", relatou Fábio Ricardi, produtor de algodão e proprietário da Fazenda Savana, em Luís Eduardo Magalhães.

A propriedade que hoje, emprega diretamente, 160 pessoas e indiretamente mais 60, produziu cerca de 330 arrobas de algodão por hectare este ano.

O empresário comemora a boa fase do negócio e pretende aumentar a colheita na próxima safra, mas recorda que foi necessário trabalhar arduamente e investir muito em tecnologia, um sistema contínuo de irrigação e em ferramentas que auxiliassem a correção do PH do solo, para obter resultados tão produtivos.

“Vinte anos atrás tudo ainda era cerrado. O local era seco, não tinha água, nem mecanização. Foi preciso abrir estradas, demarcar sede. Trabalhávamos cerca de 15 horas por dia”, lembra o produtor.

A história de Ricardi se confunde com a de diversos cotonicultores do oeste da Bahia.

Os grandes empreendimentos desta localidade são formados por grupos familiares. É o caso também, da Zanotto Cotton. A Algodoeira atua na região há 37 anos. Além de centro de armazenagem, a unidade promove todas as etapas do beneficiamento do algodão, que vai do desmanche dos fardos recebidos das lavouras, passando pelo processo de avaliação e separação da pluma, caroço, fibrilha e resíduos, até a prensagem da fibra deste versátil fruto.

Talvez você ainda não saiba, mas tudo do algodão é 100% aproveitável. Sim, isso mesmo – 100% aproveitável. Além de aquecer o mercado têxtil, o fruto tornou-se também, matéria-prima na produção de óleos de cozinha, margarina, gordura vegetal e até, ração animal.

Para extrair, de forma eficaz, todos os insumos necessários para o fabrico destes itens, a empresa conta com todo aparato tecnológico e mão de obra especializada que garantem a qualidade, eficiência e obediência aos critérios de certificação internacional (BCI).

Fernanda Zanotto, sócia-proprietária da Zanotto, faz um alerta sobre a importância do cumprimento efetivo e criterioso de todos os estágios do beneficiamento e dos prazos de entrega da matéria-prima contratada.

A atividade que é sazonal, dura em média cinco a seis meses, desde o início da safra.

“Ligamos a máquina 17 de junho e a gente tem uma expectativa de até novembro está beneficiando”, explica Fernanda.

Os países asiáticos são um dos principais destinos das cargas de pluma classificadas nas unidades beneficiadoras do oeste. Desde a chegada do capulho, matéria bruta do algodão, até a saída desses fardos para comercialização, todo o processo leva em torno de um mês.
Para atender a grande demanda produtiva da região, um novo projeto logístico foi implantado e foi avaliado de forma positiva pelos empresários do setor.

A nova rota de exportação, através de Salvador, visa, sobretudo, otimizar o tempo e o custo médio de envio até o Porto de Santos, principal destino das mercadorias comercializadas em todo Brasil.

“Estamos estudando a logística do algodão baiano há algum tempo visando entender como poderíamos contribuir com nossos serviços. Levantamos todas as necessidades e dificuldades e montamos um projeto que engloba o transporte terrestre, a estufagem, além do transporte marítimo”, informou o responsável pela operação de logística de transporte carga, Michel Generozo, da MSC Mediterranean Shipping do Brasil, em entrevista à Associação Baiana dos Produtores de Algodão - ABAPA.

Contudo, o sucesso em arrecadação e o título de 2° maior produtor de algodão herbáceo do Brasil e 4° mundial vão muito além, de um solo, que hoje, favorece o plantio do fruto, um sistema de irrigação eficiente, tecnologia de ponta e a implantação de novas rotas de exportação. Os bons resultados são vistos também, fora das fazendas e lavouras algodoeiras. O Oeste Baiano adota políticas de preservação ambiental, controle de pragas, produção sustentável e qualificação da mão de obra operária, que corroboram com estes apuramentos.

A Associação exerce um papel fundamental nesta cadeia de boas práticas, fomentando o agronegócio e viabilizando condições favoráveis à cotonicultura.  Os produtores e população local, contam com o apoio, incentivo, liderança e estrutura da ABAPA, em prol da valorização da cultura do algodão.

“Nós seremos o primeiro maior produtor de algodão do país, é só uma questão de tempo", afirma Júlio Busato, agricultor e presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão.



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