Safras
de 2019 começam a ser recolhidas das algodoeiras na região
Foto: Renato Rios
A
região Oeste da Bahia vem se destacando pelo desempenho e crescimento da
produção agrícola, atividade essa que tem fomentado o desenvolvimento do
agronegócio. Um exemplo disso é o cultivo do algodão que colocou o estado no ranking
de segundo maior produtor do país. Nesse contexto, uma projeção divulgada pela
Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), prevê um aumento de 15% na
safra de 2019 em relação ao ano passado. A previsão é que sejam recolhidos 1,5
milhões de toneladas, entre (caroço e pluma de algodão). Apesar da alta produtividade, as dificuldades para escoar a
matéria-prima podem interferir na competitividade da produção, desvalorizando o
preço do produto. Por isso, a logística é hoje, um dos desafios enfrentados por
produtores rurais e empresas do setor.
Carente de ferrovias, hidrovias e preços competitivos para
exportação dos produtos, grande parte da colheita de grãos da região
precisa ser escoada pelas rodovias até o Porto de Santos, em São Paulo,
dificultando a capacidade produtiva das safras. Os caminhos que antes eram
percorridos por locomotivas, hoje tem como principais atores do processo os
caminhões. Na profissão há quase 35 anos, o motorista Cláudio Ferreira, 55
anos, transporta a cada quatro dias, uma tonelada de grãos e caroços de algodão
de Barreiras, no Oeste da Bahia, para outros estados do país. Para ele, que descobriu a paixão pelas
estradas com o tio, carregar as safras na atual condição das rodovias tem sido
desafiador.
“O percurso para levar o algodão é longo, precisamos
redobrar a atenção, existem vários trechos que podem comprometer a carga. Temos
pouco tempo para entregar, passamos mais de 24 horas nos trajetos e são
estradas que não tem asfalto e nem sinalização, é um verdadeiro desafio, sem falar
na falta de segurança que é constante”, relatou o caminhoneiro que percorre uma
região que engloba 25 municípios situados nos dois territórios baianos (Bacia
do Rio Grande e Bacia do Rio Corrente), além de rodovias federais.
Uma pesquisa elaborada pela Confederação Nacional dos
Transportes (CNT) analisou 107.161 km de estradas brasileiras em 2018. A
conclusão da pesquisa revelou que 57% das rodovias possuem problemas. Foram
consideradas as condições de pavimentação, sinalização e geometria da via. “As
rodovias estão em péssimas condições, são muitos buracos, falta de placas e
faixas que sinalizem corretamente o trajeto que fazemos durante o transporte do
algodão. Muitas vezes corremos riscos de cargas acidentadas por conta da
situação atual das estradas no país”, assim, avalia Francisco Bezerra, 40,
caminhoneiro há 22 anos, que atualmente transporta algodão de Barreiras, na
Bahia até o estado da Paraíba.
O
escoamento da produção é feito através das rodovias BR-020 e 242, que ligam
Barreiras a Salvador, sendo a BR-242 que liga a Bahia com Palmas (Tocantins) a
mais utilizada. Para Marcílio Menezes, chefe de gabinete da Secretaria da
Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri), apesar
do oeste ser uma das regiões mais produtivas do país carece de novos
projetos de infraestrutura para comportar as demandas agrícolas. “O Oeste
enfrenta um sério problema de logística, é preciso novos modais de transportes
para auxiliar no escoamento das safras, novas opções encurtariam o tempo até o
destino e reduziria as taxas”, destaca Menezes.
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Safras de 2019 começam a ser recolhidas das algodoeiras na região
Foto: Renato Rios
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A
cultura do algodão baiano é referência no mercado externo, ganhando destaque
nos cenários nacional e internacional por seu desempenho e qualidade da fibra.
Parte de sua produção, cerca de 40%, é exportada para países asiáticos, como
China, Indonésia, Bangladesh e Vietnã. Os outros 60% são comercializado para
indústrias têxteis no Brasil. Na avaliação de Júlio César Busato, presidente da
Abapa, o algodão baiano poderia ser mais competitivo no mercado internacional
com a redução dos custos de logística. “A maioria do nosso algodão é exportado
pelo porto de Santos e desejamos fazer por Salvador. Para isso, precisamos
melhorar a estrutura do complexo portuário, inserindo novas rotas para a
China”, ressalta.
Ainda
de acordo com Busato, outros países asiáticos também apresentaram interesse no
produto, mas as tarifas são um entrave. Para embarcar uma tonelada de algodão
em um navio no Brasil, por exemplo, há um custo de aproximadamente 90 dólares,
enquanto nos Estados Unidos os produtores gastam cerca de 25 dólares por
tonelada. O oeste da Bahia tem se destacado no estado como um polo
agrícola promissor. O relatório de previsão de safras elaborado pela Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab), revela que a Bahia produziu 9,72 milhões de
toneladas de grãos na safra 2017/2018. Desses, 90% da produção teve origem nos
municípios que compõem a região oeste.
Apontada
como um dos principais projetos de logística do país, e uma das soluções para o
escoamento das safras baianas, a construção da Ferrovia de Integração Oeste
Leste (Fiol), junto ao Porto Sul, ainda não saiu do papel. Segundo a Valec,
responsável pelas obras da ferrovia, o empreendimento possui cerca de 1.500 km
de extensão, e vai conectar Figueirópolis, no Tocantins, ao Porto Sul, em
Ilhéus, na Bahia, percorrendo ao todo 49 municípios. Apesar da construção ter
sido iniciada em 2011, apenas três dos doze lotes previstos para o projeto
foram feitos.
Esforços
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Maior Produtividade da safra de algodão é destaque no Oeste da Bahia
Foto: Site Abapa
Alguns
projetos e programas têm sido desenvolvidos na tentativa de melhorar a
eficiência logística e infraestrutura de comercialização das safras. Uma das
ações foi criada pela Abapa, a Patrulha Mecanizada. O programa tem o intuito de
recuperar estradas vicinais e contribuir para a conservação dos recursos
naturais nas lavouras de algodão, que além de melhorar o escoamento colabora
com aumento de produtividade. Até o momento, 1.780 quilômetros de estradas já
foram recuperadas.
Outra
estratégia que visa estimular a produção de grãos tem sido feita com o apoio
dos governos Estadual e Federal. O Programa de Incentivo à Cultura do
Algodão da Bahia (Proalba) reduz em até 50% o ICMS sobre a comercialização do
algodão no mercado interno. Já em âmbito Federal, o Fundo para o
Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão (Fundeagro) realiza pesquisas,
promove difusão de tecnologias e ações para promoção da fibra baiana nos
mercados interno e externo.
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