Por Valéria Cardoso Pereira
Cotonicultores contam com tecnologias avançadas e pesquisas
para aumentar a produtividade e qualidade da fibra.
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Fazenda
Savana (Foto: Site Abapa)
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Pesquisa e tecnologia vem garantindo
um aumento de qualidade no cultivo do algodão no Oeste baiano. Fabiano Perina,
engenheiro agrônomo e analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), chama a atenção para a importância de programas de melhoramento
genético, com o intuito de produzir um algodão de maior qualidade.
“Nós precisamos aumentar a qualidade,
porque quando tem muita oferta, começam a procurar defeito”, afirmou o
pesquisador, se referindo ao status do país como o segundo maior exportador
mundial de algodão. “Nós estamos há 5 anos tentando desenvolver cultivares de
maior qualidade de fibra, uma fibra longa, mais resistente e firme{...}. As
pesquisas foram determinantes para assegurar o aumento da produtividade sem
precisar aumentar a área de cultivo”, explicou o fitopatologista.
A qualidade do algodão depende de
diversos fatores relativos às diferentes fases de produção, sendo a
"doença azul" um dos principais agravantes apontados pelo analista:
“Essa doença é como a AIDS para o algodão”. Fabiano também informou que o maior
problema enfrentado pelos produtores do setor é o bicudo-do-algodoeiro, praga
que chegou ao Brasil em 1983 e não foi erradicada até hoje. Júlio César Busato,
presidente da Abapa, contou que a associação realiza diversas ações, juntamente
com os produtores da região, no controle de pragas como o bicudo.
"Investimos R$5 milhões", afirmou.
É graças a parcerias com os cotonicultores do
oeste baiano e com instituições de pesquisa, como a Fundação Bahia, que o
algodão baiano ganha cada vez mais destaque no cenário mundial. Henrique
Moreira, gerente da fábrica Zanotto Cotton, apontou características que fazem
desta fibra de qualidade "tão reconhecida", como a cor, o solo, e o
cuidado no beneficiamento (processo de separação da fibra do caroço). Henrique
também reconheceu a importância do trabalho em conjunto com a Abapa no controle
de pragas, visto que esta foi a causa do fim da cotonicultura em diversos
estados do Brasil. "Se não fosse essa parceria, provavelmente nós não
estaríamos mais plantando algodão", enfatizou.
Sobre o uso de transgênicos (organismos
geneticamente modificados), Lidervan Mota Morais, diretor executivo da Abapa,
afirmou que são a principal biotecnologia trabalhada pelas instituições de
pesquisa, como as supracitadas Fundação Bahia e Empraba, bem como a Bayer, a
TMG, entre outras. “O transgênico vem com uma toxina embarcada na semente para
combater as pragas. Elas (as pragas) sempre vão existir. Se você aplica só
aquele produto, se torna ineficiente”, esclareceu. Lidervan também fez questão
de pontuar que, para adquirir as sementes geneticamente modificadas, é preciso
um receituário.
Henrique
Moreira/Lidervan Mota Morais
(Fotos:
Site Abapa)
Sobre essa aplicabilidade com prazo de validade,
Fábio Ricardi, produtor de algodão e dono da Fazenda Savana, situada no
município, concorda e endossa que a biotecnologia traz vantagens, mas só é
eficaz até certo ponto. “A natureza é perfeita, ninguém a vence”, disse o
agricultor, entretanto, deixando claro que faz uso dos transgênicos. “Uso,
porque quando utilizo, economizo em defensivos, produtos químicos, petróleo e
insumos”. A respeito dos defensivos, o professor e geógrafo Ricardo Reis Alves,
apresentou dados que apontam o Brasil como o quinto no ranking dos países que
mais utilizam agroquímicos. “Nós temos antes da gente, Japão, Holanda, França e
Alemanha, no que diz respeito à quilograma por hectare”.
Fábio
Ricardo/Ricardo Reis Alves
(Fotos:
Jeruan Araújo e Site Abapa)
Apesar dos muitos benefícios de biotecnologias como as sementes transgênicas para quem trabalha com a pluma do algodão, nem toda a cadeia produtiva prospera com as mutações das cultivares. Cleber Desiderio, gerente de produção na fábrica Icofort, que realiza o processamento dos caroços do algodão para a extração de óleo e fabricação do línter, torta e farelo, afirmou que a qualidade dos grãos é o que mais afeta este mercado em termos de produtividade e lucratividade. “Tem decaído muito nos últimos três anos a quantidade de óleo no grão. O interesse de quem produz é a pluma, o principal produto”, explicou Cleber.
A indústria da moda também visa aumentar seu
faturamento em relação ao algodão, e está se reorganizando para oferecer
produtos que acompanham a qualidade que o consumidor final demanda. Silmara
Ferraresi, assessora da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão
(Abrapa), relatou que: "Já existem pesquisas pensando em como desenvolver,
como fazer interferência na fibra, para que ela passe a amassar menos",
fazendo alusão ao repertório cultural, em que a visão - geralmente feminina-
que se têm das roupas de algodão é de que amassam com facilidade. "Falta
desenvolvimento tecnológico utilizando algodão", afirmou.
Cleber
Desiderio/Silmara Ferraresi
(Fotos:
Jeruan Araújo e Site Abapa)
Mas o que une todos esses elos em prol da busca por aperfeiçoamento, nas pesquisas, nas tecnologias, no cultivo, no beneficiamento, processamento e industrialização, é a motivação que os produtores de algodão têm em levar essa cultura pelo mundo. Júlio César Busato, presidente da Abapa, citou o interesse em: "Mostrar a importância que o algodão tem pra essa região", explicitando similarmente o valor de cada indivíduo nesta cadeia produtiva. "Nosso maior patrimônio são as pessoas", concluiu.
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