Por Caio Vítor Batista
Silva
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Foto Caio Batista |
O atual cenário do agronegócio no Brasil tem encontrado uma
série de dificuldades para perpetuar seus ideais de um pensamento voltado para
o desenvolvimento sustentável social, especialmente quando as exposições
midiáticas conferem sua atenção à exploração do meio ambiente, relegando o
segundo plano a reparação de danos causados ao meio ambiente e potencializando
uma imagem negativa para os trabalhadores rurais. Entretanto agricultores
desempenham um papel especial na manutenção da preservação de recursos naturais
que não são tratados como insumos e do bem estar de biotas e biomas em sua
composição geral. Seguindo por este lado e desafiando a projeção normativa do
setor, a Abapa possui a capacidade de propor uma transformação social não
apenas na Bahia, mas em seu entorno, inspirando produtores de outros estados do
nordeste.
A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) é
reconhecida pela relevância de seu trabalho voltado para o desenvolvimento da
cotonicultura no Cerrado baiano, especialmente por conta das amplas discussões
acerca de métodos de cultivo e impactos socioambientais advindos do uso da
terra. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), hoje
com cerca de 40% da produção sendo exportada para países da Ásia e 60% sendo
encaminhada para grandes setores da economia do país como a indústria têxtil, a
cultura do algodão no extremo oeste baiano já foi ameaçada por conta de
problemas geográficos como clima e solo oligotrófico.
Constituída de fazendas e lavouras
comandadas por médios e grandes produtores, a Abapa se vale de normas
específicas para atestar qualidade ao algodão produzido nos campos associados e
o desenvolvimento sustentável. Um dos selos adotados pela organização é o ABR,
Algodão Brasileiro Responsável, que confere uma certificação de boas práticas e
desenvolvimento ecologicamente amigável baseado nos pilares social, ambiental e
econômico. O selo ABR é considerado um equivalente nacional da iniciativa suíça
BCI, Better Cotton Iniciativé, utilizada para conferir certificação de
sustentabilidade às plantações. Por meio programa ABR, 247.840 mil hectares já
foram certificados no estado da Bahia, segundo maior produtor de algodão no
Brasil, representando 77,7% das áreas cultivadas.
Uma das fazendas associadas à Abapa é a Zanotto Cotton,
integrante de grupo familiar envolvido na agricultura do extremo oeste baiano
desde 1982. De acordo com a representante Fernanda Zanotto, a fazenda adota a
modalidade PmaisL, Produção Mais Limpa, reduzindo a quantidade de poluentes
gerados nos processos, e mantém a certificação BCI de boas práticas há pelos
menos cinco anos dentro dos padrões preestabelecidos pela certificadora. Para
Fernanda, o selo colabora para credibilizar todos os processos em que a Zanotto
Cotton está envolvida e fortalece a imagem da produtora internacionalmente. O
esforço para assegurar qualidade e responsabilidade ambiental traz resultados
em números. Até setembro de 2019, 40.000 fardos já foram produzidos e
encaminhados para comercialização.
A Abapa incentiva o uso de métodos conservacionistas e
ecologicamente amigáveis para os seus associados. Mencionada pelo gestor da
algodoeira, Leandro Henrique, a reinserção do resíduo do algodão no ciclo
produtivo adotada pela Fazenda Zanotto submete o resíduo das lavouras ao
processo de compostagem para depois utilizar o resultado disso na produção de
adubo para futuras safras.
Outra das práticas endossadas por produtores da região de
Luís Eduardo Magalhães é a rotatividade de culturas. Fábio Ricardi, produtor da
Fazenda Savana, conta que a rodízio das culturas de milho, soja e algodão são
positivas para o beneficiamento do solo, isto porque a multiplicidade de espécies
vegetais no mesmo terreno potencializa a quantidade de matéria orgânica e
minerais no solo, além de proporcionar adubação natural e cobertura vegetal
diversificada, fatores relevantes para um desenvolvimento saudável das espécies
cultivadas. Quando questionado sobre desenvolvimento sustentável atrelado às
técnicas de permacultura nas culturas na lavoura, Ricardi ressalta que embora
não houvesse o cultivo simultâneo de diversidade vegetal, o respeito ao tempo
propício do solo era indispensável no manejo agrícola da Fazenda Savana.
Sobre a polêmica relacionada ao uso de defensivos agrícolas
prejudiciais à saúde de plantas, solo e de pessoas envolvidas no cultivo direto
ou mesmo consumidores finais, Fábio ameniza e relata que testes laboratoriais
já estão em processo para provar a viabilidade do uso de compostos com
microrganismos nas plantações. O investimento em pesquisa e desenvolvimento de
defensivos à base de bactérias como o bacilo projeta o Brasil a nível global na
área de tecnologia agrícola sustentável, um dos principais fatores é a fixação
biológica do nitrogênio, uma das fundamentais capacidades desses organismos
para o crescimento de vegetais.
Quanto à preservação ambiental de áreas não cultiváveis, ou
seja, áreas onde se resguardam elementos naturais do bioma como formações
topográficas, recursos hídricos e espécies animais e vegetais endêmicas, os
agricultores do extremo oeste da Bahia seguem a política de responsabilidade
socioambiental prevista no Código Florestal e legislação nacional. Preocupado
com o estado de corpos hídricos e a questão da delimitação de terras para
instituir APPs, Áreas de Preservação Permanente, Ricardi afirma que mantém 20%
da área de sua propriedade reservadas com a finalidade de atender à lei
12.651/2012. Assim como ele, outros produtores da região de Barreiras e Luís
Eduardo Magalhães buscam manter o equilíbrio ambiental por meio do
conservacionismo utilizando o Código Florestal na criação de Reservas Legais.
Buscando o equilíbrio ecológico e prezando pelo respeito às
fontes de recursos naturais, os membros da Abapa contam ainda com a colaboração
da Aiba, Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia nos projetos de
recuperação de nascentes e combate a incêndios florestais.
O Programa Bahia Sem Fogo atua divulgando de informações e
instruindo a população com o objetivo de reduzir a incidência de queimadas e
incêndios florestais na região, intensificados pelo clima semiárido e o tempo
seco. Enquanto revitalização de nascentes orientada pela Aiba e pela Abapa em
municípios como Barreiras recupera a saúde dos recursos hídricos da região e
promove integração social de famílias e pequenos produtores que dependem de
fontes como o riacho Tijucuçu, na cidade de Wanderley, beneficiado em 2018.
As práticas adotadas são importantes para o cenário agrícola
da Bahia por conta da problemática ambiental envolvendo outros tipos de
culturas. Exemplo típico para o plantio de eucalipto no extremo-sul do estado,
que expôs conflitos sociais e desencadeia prejuízos ambientais por conta do
assoreamento de fontes hídricas registrados desde 2014.
Através de um modelo produtivo consciente, a cotonicultura
baiana passa a inspirar produtores de outras regiões a buscar a conservação
como possibilidade. A agricultura no Extremo oeste Baiano e prova sustentável e
mostra que a responsabilidade ambiental é viável e apresenta resultados
positivos para o mercado e para a sociedade.
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