Por Mirelle da Cruz Lima
De
acordo com dados da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o
Brasil é o quinto maior produtor mundial de algodão. Entre os estados do país,
a Bahia é o segundo maior responsável por essa produção, atrás apenas do Mato
Grosso. Uma das fibras mais utilizadas no mundo, o algodão baiano é essencial
para suprir a indústria têxtil, que atualmente é a segunda maior empregadora da
indústria de transformação no Brasil.
As
peças confeccionadas percorrem um longo caminho, que se inicia na produção do
algodão. É eminente o aumento da
preocupação com o meio ambiente no âmbito da moda, o que leva à atenção com a
forma em que o algodão utilizado para a produção das peças é cultivado.
Referência
no cultivo da fibra de forma sustentável, a Associação Baiana dos Produtores de
Algodão (Abapa) possui um trabalho primordial para o fortalecimento da moda
sustentável, uma vez que, a cotonicultura praticada pela mesma possui grande
cautela com o meio ambiente.
Fazenda Savana. Foto: Mirelle Lima
Entre
os projetos apoiados pela instituição está o Sou de Algodão, iniciativa que
surgiu em outubro de 2016 quando a Abrapa identificou progressiva queda na
demanda pela fibra no setor têxtil. Esta queda pode ser justificada pela
ascensão do conteúdo sintético na moda, que por ser mais barato, é utilizado em
grande escala, principalmente no varejo – setor que também aumentou nos últimos
anos.
O Sou
de Algodão possui o objetivo de fortalecer e unir os agentes da cadeia
produtiva em torno da sustentabilidade e do consumo consciente na moda através
do incentivo do uso de algodão. O
projeto também ressalta a valorização de todos os elos da cadeia, desde a
produção até o ponto de venda.
Informar
o público sobre a presença do algodão nos diversos segmentos da moda é
primordial para que haja a conscientização sobre a importância de utilizar a
fibra, que é natural, confortável e saudável.
Sustentabilidade
De
acordo com análise do site especializado em consumo online Lyst, em 2018, as
pesquisas sobre moda sustentável cresceram 66%, o que demonstra que o público
consumidor de moda tem cobrado das marcas cada vez mais responsabilidade
ambiental ao confeccionar uma peça.
O
Brasil se destaca em cotonicultura sem irrigação, pois mais de 90% plantações
dependem apenas da água da chuva para se desenvolver. Tal fator colabora na
diminuição do uso e desperdício de água.
A
Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) possui diversos programas
que promovem a cotonicultura baseada em princípios ecológicos. Exemplo disso é
o Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que objetiva o incremento
progressivo das boas práticas sociais, ambientais e econômicas nas unidades
produtivas de algodão.
Na
Abapa nenhuma parte do algodão é desperdiçada, desde as sementes, utilizadas na
produção de itens alimentícios, até as plumas, utilizadas na indústria têxtil. Além
disso, a sustentabilidade é base para todos os processos da produção, da
colheita até a preparação para a exportação.
Exemplo
disso, é que os plásticos utilizados para embalar os rolos de algodão, formados
após a colheita, são um plástico especial reciclável. Essa medida reduz o
impacto da produção no meio ambiente, pois o plástico, quando descartado de
maneira incorreta causa diversos danos ao meio ambiente.
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Algodoeira Zanotto Cotton. Foto: Mirelle Lima |
Os
tecidos sintéticos que as empresas utilizam por serem mais baratos agridem
diretamente a natureza, uma vez que são feitos a partir de petróleo e liberam
resíduos tóxicos durante a fabricação e a lavagem. Esses resíduos são muito
pequenos e chegam aos oceanos, o que leva à contaminação dos peixes, que
através da cadeia alimentar contaminam também os humanos.
Desse
modo, o algodão por ser natural e sustentável é uma das principais opções para
quem deseja aderir à moda sustentável e propagar um consumo consciente, que tem
crescido cada vez mais, principalmente com o público jovem.
São Paulo Fashion Week
Não
haveria cenário melhor para o lançamento do Sou de Algodão do que o São Paulo
Fashion Week, e foi na 42ª edição da semana de moda brasileira que ocorreu a
estreia. Mas essa não foi a única vez que o projeto esteve presente no SPFW. Em
2018, na edição de número 46, o estilista João Pimenta apresentou uma coleção
confeccionada somente de algodão.
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Desfile
de João Pimenta no SPFW 46. Fotos: Zé Takahashi / Ag. FOTOSITE
Com apoio do projeto Sou de
Algodão, o estilista desenvolveu diversos materiais especiais a partir da
fibra. Entre os objetivos do artista, trazer para a passarela peças
sofisticadas feitas com tecidos que geralmente são vistos como casuais.
Este ano, no 47º SPFW a marca
Another Place contou com uma coleção feita em 70% algodão. O diretor criativo
Rafael Nascimento abordou a conexão das pessoas após o surgimento das redes
sociais.
Presente nos dois desfiles,
promover a diversidade é um dos pilares do projeto. A iniciativa do Sou de
Algodão pretende propagar representatividade nos espaços da moda e apoiar
artistas que possuem esta diretriz.
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Desfile
Another Place no SPFW 47. Fotos: Zé Takahashi / Ag. FOTOSITE
Marcas
Atualmente, o projeto conta
com mais de 130 marcas parceiras nos segmentos de assessórios; artesanato; moda
feminina, masculina e infantil; moda casa, moda íntima, e tecelagem.
Entre elas estão: Artex,
Brandili, Farm, Gardana Jeans, Kyly, Lojas Renner, Martha Medeiros, Santista e
Urbano.
Futuro
Para a representante do Sou de
Algodão, Silmara Ferraresi, é eminente a mobilização do mundo da moda em causas
de sustentabilidade.
“O que a gente tem notado,
inclusive com os estudos do Sou de Algodão e com a relação que a gente tem com
a cadeia têxtil como um todo, é que cada vez mais, o mundo da moda tem se
engajado em iniciativas sustentáveis. É óbvio que primeiro, a mobilização das
pessoas está relacionada a alimento, a aquilo que se come, então hoje na
alimentação as pessoas já tem uma preocupação maior com a origem, com quem
produziu, como foi produzido, a certificação, e isso tem chegado cada vez mais
rápido no mundo da moda”, explicou.
Ela ainda afirmou que o fast fashion que vai ter que se reinventar. “A gente já têm,
principalmente com essa geração, que é uma geração mais jovem, a preocupação de
consumir menos, ser mais responsável e aí a gente tá falando de um fast fashion que vai ter que se
reinventar, em valorizar o que é local, em usar aquilo que eu sei de onde veio,
quem produziu, quem está por trás, porque aí eu sei que estou contribuindo para
pessoas à minha volta crescerem cada vez mais”, ressaltou.
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Silmara Ferraresi. Foto: Ascom Abapa |
Para Silmara, o varejo já se
prepara para atender esses consumidores. “Não significa que as pessoas vão
deixar de se vestir, não significa que as pessoas vão deixar de ter preocupação
com o design, do conceito, do cultural que a moda tem, mas as pessoas vão
passar a produzir e consumir moda de uma maneira diferente e eu acho que não é
questão de muito tempo, porque a mudança tem sido muito rápida, basta você
olhar as mudanças que tem acontecido no varejo, a Renner já tem preocupação e
já consome algodão sustentável, a C&A já está com uma coleção de jeans que
consome menos água, a Farm acabou de lançar uma coleção assim, a Marisa está se
preparando pra isso. Ou seja é um varejo que já se prepara para atender os
anseios desse consumidor”, concluiu.
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